Situação do português em Angola
A adopção da língua do antigo colonizador como língua oficial foi um processo comum à grande maioria dos países africanos. No entanto, em Angola deu-se o facto pouco comum de uma intensa disseminação do português
entre a população angolana, a ponto de haver uma expressiva parcela da
população que tem como sua única língua aquela herdada do colonizador.
São vários os motivos que explicam esse fenómeno. O principal foi a implantação, pelo regime colonial português,
de uma política assimiladora que visava a adopção, pelos angolanos, de
hábitos e valores portugueses, considerados "civilizados", entre os
quais se encontrava o domínio da língua portuguesa.
Por outro lado, há que ter em conta também a presença de um elevado
número de colonos portugueses, espalhados por todo o território, bem
como dos sucessivos contingentes militares portugueses que, durante o
longo período da Guerra Colonial, se fixaram no interior do país.
Apesar de ser um processo impositivo, a adopção do português
como língua de comunicação corrente em Angola propiciou também a
veiculação de ideias de emancipação em certos sectores da sociedade
angolana. Principalmente a partir de meados do século XX, a língua portuguesa facilitou a comunicação entre pessoas de diferentes origens étnicas. O período da guerra colonial
foi o momento fundamental da expansão da consciência nacional angolana.
De instrumento de dominação e clivagem entre colonizador e colonizado,
o português adquiriu um carácter unificador entre os diferentes povos de Angola.
Com a independência em 1975, o alastramento da guerra civil, nas décadas subsequentes, teve também um efeito de expansão da língua portuguesa, nomeadamente pela fuga de populações rurais para as cidades—particularmente Luanda -- levando ao seu desenraizamento cultural e forçando a rápida adopção do português.
A própria implantação do novo Estado nacional reforçou a presença do português, usado no exército, no sistema administrativo, no sistema escolar, nos meios de comunicação, etc.
Embora, oficialmente, o governo angolano declarasse defender as
línguas nacionais, na prática, tendeu sempre a valorizar exclusivamente
aspectos que contribuíssem para a unificação do país—o português
como a única língua unificadora—em detrimento de tudo o que pudesse
contribuir para a diferenciação dos grupos e a tribalização — a miríade
de línguas e dialectos regionais e étnicos.
Embora as línguas nacionais ainda sejam as línguas maternas da maioria da população, o português é já a primeira língua de 30% da população angolana—proporção que se apresenta muito superior na capital do país -- e 60% dos angolanos afirmam usa-la como primeira ou segunda língua[5][6].
Língua oficial e do ensino e um dos factores de unificação e integração social, o português
encontra-se aqui em permanente transformação. As interferências
linguísticas resultantes do seu contacto com as línguas nacionais, a
criação de novas palavras e expressões forjadas pelo génio inventivo
popular, bem como certos desvios à norma padrão de Portugal,
imprimem-lhe uma nova força, vinculando-a e adaptando-a cada vez mais à
realidade angolana. Alguns dos muitos exemplos são as palavras:
"kamba", "kota", "caçula" ou "bazar", que provêm de vocábulos kimbundu, di-kamba (amigo), dikota (mais velho), kasule (o filho mais novo) e kubaza
(fugir), respectivamente. Para além dos já plenamente dicionarizados na
língua portuguesa, batuque, bobó, bunda, bumbar, bué, cambolar,
capanga, catinga, curinga, dendê, gingar, ginguba, jimbolo, jingo,
machimbombo, maxim, minhoca, missanga, mocambo, mocotó, moleque, munda,
mupanda, mutula, muzungo, pupu, quibuca, quilombo, quitanda, samba,
sibongo, tacula, tamargueira, tanga, tarrafe, tesse, ulojanja, umbala,
xingar e muitos outros.
A língua literária em Angola distinguiu-se sempre pela presença das línguas locais, expressamente em diálogos ou interferindo fortemente nas estruturas do português. Embora quase exclusivamente em língua portuguesa, a literatura angolana conta também com algumas obras em kimbundu e umbundo.
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